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30 de mai. de 2011

Você quer?


- Você é linda, sabia?
- Obrigada. Você também é muito bonito.
- O que você acha de a gente sair qualquer dia desses?
-Não, muito obrigada.
- Mas por quê?
- Você não faz o meu tipo.
- Como assim??? Você acabou de dizer que me acha bonito.
-Sim, e daí?
- Como assim “E daí”???
- O que tem a ver eu te achar bonito e sentir vontade de sair com você?
-Tudo!
-Bem... um rostinho bonito não é coisa que me convença. Sinto muito.
- Mas você é uma marrenta mesmo. Agora, só por causa disso, eu ainda vou te comer, para acabar com essa sua marra.
- Nossa... você fala como se eu fosse uma virgem que não dá para ninguém. Se algum dia você me comer, sinto informar, não terá sido o primeiro. Já dei para alguns outros antes. E não pense você que conseguir me comer seja algo tão impossível assim. Se eu estiver bêbada, de bom humor e há algum tempo sem dar, não duvide que eu te daria. Você pode até ser um babaca, mas para o que eu vou querer, vai servir. É só ficar de boca fechada. Mas já que você está aí, bancando o fodão, e ainda por cima tem a maior fama de pegador e tal... só te digo uma coisa. Se você me comer, é bom que me coma muito bem. Senão, eu vou contar para todo mundo que sua foda é uma bela de uma porcaria. E, pelo pouco que você me conhece, deve saber que eu conto mesmo.

Nem preciso dizer que ele nunca mais tentou nada. Aliás, só para me divertir, me insinuei para ele algumas vezes. E ele fez exatamente o que eu esperava: fugiu. Homens são assim. Inseguros diante de mulheres seguras.

mulheres, besouros e homens

A primeira vez que senti algo parecido com o que chamamos de paixão ou amor (qualquer palavra é insuficiente para definir a sensação) foi num hotel em Caxambu. Eu tinha oito anos e conheci duas lindas irmãs gêmeas, da mesma idade que eu, uma ruivinha e outra moreninha.
De um dia pro outro tornei-me uma menina catatônica, um zumbi. Só pensava em encontrá-las, estar perto delas.
Num final de tarde inesquecível, as duas me chamaram para pegar besouros no jardim do hotel, havia dezenas deles por lá. O sentimento que me ligava a elas fez com que eu perdesse o medo daqueles insetos estranhos. Eu faria TUDO que elas quisessem, faria TUDO por elas. Passamos horas colecionando uma infinidade de besouros. Três meninas no meio do mato. Depois de uma semana elas foram embora. O sofrimento e o vazio que experimentei quando elas partiram do hotel foi tão forte que ainda hoje eu posso sentir tudo aquilo quando fecho os olhos e relembro flashs daqueles momentos.
Ali eu descobri a minha vocação para servir as mulheres. "Use-me e abuse-me" é meu lema endereçado a elas.
Essa paixão dupla talvez explique também a minha crença inabalável em amores simultâneos.
Por que não podemos amar duas pessoas ao mesmo tempo?
E amei pra sempre as mulheres e os besouros.
Sobre os homens?
Quase todos são bobos, nunca tive paciência.

29 de mai. de 2011

A saga de Déda Cuda



Déda Cuda era 
quase muda.
Na gozada se
via profética
ungindo a testa
da sua cona 
em chamas.

No ato do sexo
usava  voz 
de festa
citando Bataille 
poética: 

- “O globo está coberto de vulcões que lhe servem de ânus” (gemeu!)
-“Embora este mundo não coma nada, rejeita o conteúdo fora do seu ventre”.  (Sou eu!)

Vivia triste, atrás de orifícios firmes… 

Num dia na galeria
achou uma tela
feminina
de um cu
sem pregas

Déda Cuda de dedo
 tranquilo
pousou naquilo,
seu anelar endurecido.

o quadro sugou Déda, 
pro cu da tela muda,
no mundo dela,
a arte dúbia,
fundiu-se em uma.


* Neste poema, algumas referências de L’Anus Solaire.  

28 de mai. de 2011

Tempo, tempo, tempo




Eu até tinha um nome, uma idade e uma profissão. Minha altura e meu peso eram importantes. Trabalhava e estudava. Orgulho da mamãe.

Hoje, sou louca, perdida, confusa. Me apaixono, me jogo. Ganho, perco. Sinto raiva, tristeza, mágoa. Com o coração dilacerado, violentado.

Tenho o gosto de boca, de corpo. Cheiro de suor. Passado. Presente. Futuro.

Lembranças.

Perdi chances na vida, experiências que nunca mais terei oportunidade de viver.

Acredito que nunca é tarde. Quero experimentar o que mais tiver pela frente.

Abro mente, corpo e coração.

Gosto de tudo, de todos.

Às vezes, esqueço do tempo e de como era antes. Um tempo passado que não interessa. Esfacelado, líquido.

Fico olhando para o nada e há uma satisfação em tudo.

Quero mais. Mais de tudo, do que vivi e do que não vivi.

Em casa, na rua. Na cama, na cozinha ou no banheiro. Até na imaginação.

26 de mai. de 2011

Entrelinhas


finjo
que conto
o conto
é canto
d’alma
desencantada

25 de mai. de 2011

Gozo solitário


Procurou as chaves. Abriu a porta do apartamento. Arrancou as roupas e despejou na cama o corpo cansado. Mas do que adiantaria jogar todo aquele pano fora, se sua carne também estava suja? Ligou o rádio. Música suave. Abriu um bom vinho. Tinto, é claro. Sempre tinto. Cor do sangue. Atirou-se embaixo do chuveiro. O vapor da água quente embaçava os vidros, os espelhos. Deformavam sua imagem.

Saiu do banheiro. Apenas uma toalha branca e encharcada abraçava sua pele. A água que escorria de seu corpo molhado pingava no chão. Já fria. Não quis se secar. Jogou-se na cama assim, nua e molhada, cabelos bagunçados.

Acendeu um cigarro. A taça de vinho ainda pela metade. A música suave continuava tocando. Vontade de sexo. Tudo naquele quarto cheirava a sexo. Seu corpo transpirava sexo. A última noite tinha sido muito pouco para saciá-la.

Ela nunca estava satisfeita... sempre quis dar muito mais do que eram capazes de receber. E no final, sempre ficava a sensação do mal acabado. E em cada canto do corpo dela, o gostinho de quero mais. Mais beijos. Mais mordidas no pescoço. Mais gozo. Mais esperma. Mais sexo. Mais palavras. Mais carinhos. Mais... mais, mais, mais.

Admirava o corpo nu, ainda molhado. Ela exalava sexo. Ela se tocava. Ela desejava sexo. Ela passava sua mão em cada curva, introduzia sua mão em cada canto de seu corpo. E gemia. Cada vez mais alto. Cada gemido mais intenso. Nessa noite, gozou sozinha. Dormiu triste. Mas satisfeita.

Ela sabia que quem quer sugar tudo, não pode esperar nada de ninguém. Nem mesmo dela mesma.

22 de mai. de 2011

Boneca da princesinha


Quando escrevo falo de mim ou dos personagens que crio? Que invento nessas folhas e materializo em mim. Quantos personagens sou, fui ou poderia ter sido?Já fugi tanto de mim... nem lembro mais quantas vezes me perdi.

Vou contar uma historinha do meu verdadeiro eu, meu eu mais inventado. Mas o que existe de realmente meu nessa narrativa, apenas eu posso saber. A diversão sádica é exatamente essa, brincar de me esconder enquanto escrevo. Quem sabe eu não encontre um pouco de mim, morta entre essas linhas que guardam letras recém paridas de meus dedos.

Então... era uma vez uma princesinha, que brincava de reinar. Que um dia escondeu sua boneca em um dos imensos bosques de seu reino. Mas esqueceu em que pântano a deixou e chorava todos os dias cheia de amargura. Todas as vezes em que procurava em vão o pedaço de pano velho.

Mas nunca esqueceu sua antiga boneca, sempre viva em sua lembrança, nas mais felizes ou
tristes recordações. E ficava enfurecida quando tentavam dizer quem sua boneca era, como se houvesse alguma verdade a ser dita. Verdade havia: era a verdade dela, só dela. Que mudava e se transformava a cada instante, tantas vezes quanto a princesinha quisesse.

Até que um dia a princesinha cansou de tentar encontrar a boneca perdida. Não importaria mais onde ela estivesse, ela sempre estaria lá, de qualquer forma. Mas a falta da boneca também fez com que a princesinha cansasse de reinar, foi perdendo o amor pela vida.

Foi só quando a princesinha voltou a se apaixonar (ou se apaixonou pela primeira vez) por tudo o que existia, que conseguiu se apaixonar mais e mais por tantas outras coisas, que até então desconhecia.

De quê valeria sua vida, se não houvesse amor? Mesmo a boneca estando perdida.

21 de mai. de 2011

Receitas para ressaca I

Para aquecer esta noite quase de inverno, nada como deliciar-se com uma dose de algo bem doce e enlouquecedor. Que tal uma capirinha de kiwi com saquê?



Ingredientes:
• 2 kiwis sem casca
• 60 ml de saquê (ou o quanto você achar melhor)
• Açúcar a gosto (cerca de 4 colheres)
• Cubos de gelo a gosto

Modo de Preparo:
• Coloque o kiwi e o açúcar em um copo e amasse com o socador
• Acrescente o saquê, mexa bem
• Acrescente cubos de gelo e mexa

Caso, você não tenha saquê, coloque qualquer outro tipo de destilado. E se a falta for o kiwi, coloque qualquer outra fruta, até mesmo suco em caixinha ou pozinho - pode socar também se quiser, mesmo que seja uma ação inútil.

E, okay, isso nada tem relação com caipirinha, talvez o modo de fazer. Mas se você conseguir beber muitas, a sensação vai ser a mesma ao final da décima dose. E o dia seguinte também! Venha para os meus braços doce e suculenta ressaca!

coma nº 4

Dei-me conta de que ela não passava de um borrão desnutrido da memória, que eu alimentava na esperança de que tornasse palpável, correspondesse aos meus afetos, saciasse meus desejos. Que se tornasse corpo, aberto e dessemelhante. Se a porta que me encarava não mais se abrisse aos encantos dela, aos encantos do meu borrão, aos encantos do meu rascunho, me
restaria um único canto, um canto fundo, sem notas, ritmo ou melodia. Um canto desarmônico na parede fria, com meus olhos fechados para sempre. Porque os olhos só se fecham ao êxtase ou à morte; ao movimento do gozo ou à paralisia do desgosto. Alegria é a prova dos nove ou é à prova de balas.
Ela finalmente escancarou a porta. Sua pele lisa tinha a cor e a resistência do mármore negro. Naquela sala asséptica, de paredes brancas e ar inodoro, as sensações que aquele corpo exalava eram a imantação da vida. O poder daquele corpo, a um tempo sólido e solícito, mergulhou-me num estupor de passividade. Só me cabia esperar que o seu corpo negro e liso se lisonjeasse de minha alma máscula e de meu corpo feminino, ávida por ser absorvida e penetrada pelos seus poros semiabertos.
Conforme se aproximava, esguia e lenta, em minha direção, sentia sua respiração calma e sedenta, meus batimentos aceleravam, meus poros e músculos pulsavam. Nosso toque era iminente. Sua boca de carne vermelha mirava minha boca, seus seios negros e rijos, de mamilos eretos, miravam os meus seios pequenos, suas mãos passeavam meu rosto, meus restos; seus lábios inferiores molhavam meus lábios todos; seus braços miravam um abraço.
Nossas almas cerraram os olhos em êxtase.

20 de mai. de 2011

O Jardim de Nabuco


Quem o fez foi o próprio.
Queria ter um espaço inóspito para trepar em formas despolidas.
Arrumou em setembro, mas nele não havia flores, nem cheiros.
Dentro dele morava um pássaro curioso em forma de gato quadrúpede.
Acordava às 6h e dormia às 3h, pegava sua roupa de felino no varal.
Pensava que  concreto podia ser sachê de chá de sentimento, dizia que descia sólido.
O pássaro gato se chamava Nabuco e era órfão, ainda pequeno sua mãe teve lupus.
No jardim, Nabuco choramingava uva passas pra passarada em revoada, assim, não ficava sozinho.
Um dia, no reflexo da poça viu uma mosca com cara de moça olhando pra lua.
Cantarolava mini cantarolices de pássaro gato e pensava na Babilônia.
Línguas estranhas que Nabuco falava, pediam licença e passavam entre os dentes.
Sabia que era mais que um gato, mas não passava de ter pêlos e unhices.
Sal-ti-ta-va, pensava que tinha carne com látex, e comia apenas caraminholas em promoção.
Quarou uns lençóis encardidos de estrelas, estavam expostos em sonhos sujos.
Sabia de muitas coisas que já tinha sonhado, cultivava indômito o medo, dizia que preferia os rejeitados.
Brincava de ser um menino com um olho vazado de pirata que engolia facas de prata.
Seu maior absurdo imaginado era ter um pênis pelado, não no sentido de estar nu, mas na figura de ter pêlos, o seu era liso e ele não sabia que o tinha. Nabuco não pensava nas genitálias.
Nabuco só queria brincar no jardim e não conhecia ninguém que falasse seu barulho.

17 de mai. de 2011

E chego ao reino dos céus


Nunca pensei que entrar num blog fosse mais difícil que entrar num bar. E não é só por conta da idade, que, dependendo do lugar, é preciso ser maior de 18 anos – afinal, este blog não é para adultos, apesar das controvérsias.

Ao sair de casa, você escolhe a esmo qualquer buteco ou birosca para entrar e encher a cara de cerveja, vinhos, pinãs, sangrias, caipirinhas e afins. Nenhuma delas com qualquer tipo de moderação. O dia seguinte? Para que pensar nisso se o hoje é aquele que nos traz diversão?

Agora, entrar num blog é diferente. Apesar de no ‘Mulheres que bebem’ vocês encontrarem quase homônimas das bebidas do bar e poderem consumi-las sem moderação; aqui, elas falam ‘a que vieram’. Li muitas vezes esse blog para ter certeza que teria história para contar; afinal, essas moçoilas arrasam quando a questão é botar a boca no trombone – ou em outras coisas.

Ao contrário dos bares da vida em que você chega chegando, no Mulheres passei quase metade do dia pensando o que poderia fazer depois do convite feito. Dentro de uma seleção de mulheres lindas e gostosas, quem era eu no meio de tudo aquilo?

Nas possibilidades existentes, por meio de um brainstorm, cheguei a uma conclusão: sou a ressaca. Aquela em que nunca pensamos até que ela chega. Aquela sensação que nos faz reclamar o dia inteiro e prometer a todos os santos que nunca, mas nunca mais iremos beber.

Isso vai até o próximo convite, uma festinha ou festão, uma comemoração de aniversário de amigo ou mesmo um não-aniversário, uma conversa, um bate-papo, um jogar conversa fora e falar bobagens a noite toda. Motivos não faltam para quebrar nossa promessa.

Ressacas de bebidas, de comida, do mar, do tempo... até mesmo da moral. Essa sim é arrebatadora e que gera grandes promessas. Mas contrário da ressaca, vim querendo ficar. Assim, virei a enxaqueca, e, para ficar chique (porque sou dessas), virei a Migraine Girl – Garota Enxaqueca para os íntimos.

Ainda não sei como irei me extimizar – palavra bonita que aprendi lendo um livro, seria algo como exteriorizar a intimidade – mas espero chegar aos pés das lindíssimas do ‘Mulheres que bebem’, que não estão no céu exatamente, mas pelo rebú que colocam deveriam ir para lá urgente e dar uma animada!

10 de mai. de 2011

Quando sou deus


Todo mundo tem seu lado narcisista e egocêntrico. Eu, por exemplo, já pensei em escrever um livro; misturar passagens de minha vida à ficção, para depois fingir que tudo não passa de literatura barata. Mas como minha vida não é só minha – é também de tantas outras pessoas que cruzam meu caminho -, eu teria de qualquer forma que inventar – e muito – sobre minha própria vida inventada. A verdade é que ninguém me enxerga, ninguém me vê da maneira como me vejo. O quanto de verdade minha verdade teria? Tudo ficção. Para você, não para mim.

Mas não posso negar que algumas de minhas verdades eu invento, quem sabe para sofrer menos, para sorrir mais; minhas mentiras que escondo, por um motivo qualquer que desconheço. O que é a verdade, quando cada um tem a sua? Quando escrevo, crio um universo onde reina a minha verdade. Faço de mim a única verdade. Quando escrevo, sou deus. Um deus que determina a existência dos personagens que reproduz, reinventa, recria.

Um deus que xinga quando tropeça distraído na rua. Que pode chorar na frente de qualquer um e morre de medo do escuro. Um deus que não sabe o que vai acontecer amanhã. Mas pode inventar tudo em falsos registros escritos. E um dia, quando lerem minha mentira, podem encontrar nela alguma verdade. E eu terei criado uma verdade. Imposto a minha verdade. Eu terei sido deus.

A verdade é que as palavras que escrevo têm o poder de curar minha alma. Isso já me basta – às vezes (mentira?). Não preciso nem quero uma verdade simples e pura. Isso é coisa de gente reprimida, limitada. Minha verdade invento eu. A sua? A sua é problema seu. Talvez me interesse. Não sei. A verdade – que eu como deus imponho aqui enquanto escrevo – é uma só: todos nós mentimos para nós mesmos.

9 de mai. de 2011

Retardada


Veio de soslaio. Era sol, massa, fumaça. Intensa metade minha, só que inteira. Veio pronta já. Mas ainda assim, tinha algo que precisava de encaixe, tinha nela espaço ainda para tudo: a porra, o mundo, mularou, pentelho ingrato e um gosto de azedume vindo lá de baixo. Era um tapa: de luva, pelada, nas nádegas, sedenta pelo gozo jorrado na cara. Era ela.

Muita cor ou quase nada. Sabia ser sombra e ser sol, apesar de tudo. Há pesar em tudo? Ela respondia com uma palavra besta, proferida pela boca seca e de lábios rosa. Destestava aquele batom, mas ela insistia. Balbuciava qualquer coisa e saía. Não adiantava mesmo dizer nada, ela seguiria sem mim. Ficava sempre aqui pasmada, vaca amarela, parda, molhada. Que cagada! Dar de cara com ela, assim, num bom dia.

Poderia ser o reverso, mas era um verso, poema, palavra. Alterego fora de mim... Marcha mais lenta, voz mais baixa, corpo mais fino, mas ainda sim, eu me vejo ali, num rascunho qualquer, numa frase não terminada, no canto do olho vermelho, no peito do pé, no dedo do meio... Ela era enfim um modo não mais fácil, mas tácito, menos lúcido, mas mais lúdico, para quem quiser saber de mim.

8 de mai. de 2011

Sexo britânico


Num dia desses, em uma de minhas fanfarronices pela Lapa, resolvi experimentar algo especial. Na verdade não resolvi porra nenhuma. Saí de casa totalmente desintencionada, apenas na vibe de encher os cornos em qualquer inferninho desses por aí. E lá fui eu com uma rapariga, a qual acunharei aqui de Caninha da Roçando. Fomos, sozinhas, peripeciar nos becos do tradicional bairro carioca.

Eis que na “noitada” – se é que podemos chamar aquilo de noitada- um garboso rapaz demonstrou claro interesse em mim. Loiro, alto, pele branquinha e olhos claros. Ou seja, não fazia nem um pouco meu tipo. E ainda por cima ficou praticamente em cima de mim, mas nada de vir falar. Muito franca, como todos sabemos que ando total sem paciência, caguei. Mas ele não resistiu aos meus encantos indígenas e veio educadamente conversar, sem nenhum daqueles clichês tradicionais idiotas que estou acostumada a ouvir. Ou seja, ganhou pontos comigo. E todo mundo fala que sou muito exigente... a verdade é que vocês, portadores de um falo entre as pernas, não sabem tratar uma mulher.

Enfim. Percebi pelo sotaque que o moço não era daqui. Ele era um típico senhor nativo da terra do chá; ainda aproveitei para dar uma praticada no inglês. De lá, fomos beber um cerveja em um barzinho onde poderíamos conversar melhor, e o melhor de tudo foi ver a Caninha da Roçando tentando “improve” o english dela. Para descontrair ainda mais o ambiente, ensinamos o rapaz a falar meia dúzia de merda, porque como um gentleman britânico, ele não tinha ideia do que seria um “vai tomar no cu” – frase usada com muita frequência no cotidiano carioca. Mas o mais engraçado mesmo foi o fato de ele não entender nada que a gente falasse muito rápido – em português, é claro. E foi aí que fiz a festa.

Quando resolvi que daria umas beijocas no rapazote, mandei Caninha se retirar, assim, na cara dele. E, é claro, o pobre nada entendeu. Trocamos umas bitocas românticas e, juro que não sei o que deu em mim, cismei porque cismei que eu iria dar para ele. E todos sabemos que quando eu cismo com alguma coisa, fudeu. Falei para a Caninha - na frente do moçoilo – que eu iria dar um cruza. E complementei: “Cara, eu nunca fiz um troço desses. Dar para alguém que acabei de conhecer”. E em vez de me desencorajar, sabe o que ela disse? “Ah, para, já fiz isso um milhão de vezes! Dá para ele logo”. Piranha.

Pseudo-príncipe-William
Eis que ficou a cargo dela informar ao gentleman que, naquele dia, ele iria se dar bem. “E então, estou indo embora. Ela vai para casa comigo ou com você?”. “Oh! Não! Eu a respeita muito, não faria nada com ela!”, disse o pimpão, com sotaque carregado e alguns erros de concordância verbal. Aaaaaaaaaah. Pai, será que na Europa as pessoas não fodem de primeira? Isso foi um banho de água fria em meus sonhos estrangeiros. Mas, enfim, como eu queria porque queria, o diálogo seguiu. “Não, você não entendeu. Ela quer dormir” “Ah, sim! Você quer dormir em um lugar comigo?” “Ah, quero sim, estou com sono” (aff, aff, aff!!!). No final das contas, fui parar em um hotel chique no Catete.

Como sou suja, pensei “agora, só de sacanagem, vou fingir mesmo que vou dormir”. E não é que o pobre coitado ficou me olhando com a maior cara de paisagem? Tadinho, precisei dar uma trela para iniciamos os prazeres carnais. Na boa: Eu me senti péssima. Isso porque o cara estava todo apaixonado, trocando carinhos, olho no olho, e eu só queria dar. Nunca me senti tão macho na vida. Péssimo. Ele só dizia que eu era linda, que tinha adorado me conhecer e eu querendo apenas dar. O auge foi quando ele perguntou – veja bem, PERGUNTOU – se poderia tirar minha blusa. Pai, ele realmente acreditou que eu só fui para o hotel dormir...

Esse foi o ápice. Eu morri de rir e disse que poderia. E o pior: ele não entendeu minha gargalhada. Mas, não pensem vocês, rapazes, que o cara é um otário. Muito pelo contrário. Ele sim sabe tratar uma fêmea. Aprendam com ele, seus babacas. O problema foi comigo mesmo, que não consigo acompanhar esses rompantes apaixonados. O que não deixou de fazer com que eu ficasse encantada com aquele gentleman alvo de olhos claros.

Conclusões gerais
No dia seguinte, ele se despediu todo apaixonado e à noite me mandou uma mensagem super romântica, pedindo para eu ligar quando tivesse um tempinho, porque queria me ver de novo. Mas eu não faria isso. Eu me conheço. Seria maldade com o pobre rapaz. Pensei seriamente em sequer responder, mas achei deselegante de minha parte e mandei um breve “ok, nos falamos”. Codorninha Debochada (minha fiel escudeira, várias vezes aqui já citada) disse que eu preciso trabalhar esse meu total desapego. Admito. Acho que necessito de uma terapia intensiva.

Já Caipirinha da Silva foi mais direta. “Ótimo. Você acabou de contribuir para o clichê brasileiras-piranhas-pseudo-intelectuais”. Foda-se. Dei mesmo. Mas, definitivamente, fiquei arrasada; nem quando eu decido piranhar, consigo ser piranha. Eu só queria uma parada diferente, e busco a novidade justo com um cavalheiro, um típico pseudo-príncipe-William. Definitivamente, esse negócio de vagabundagem não é uma boa para mim.

Ao menos foi divertido, uma história para contar. Agora eu já posso dizer: sim, eu dei para um desconhecido. Um gentleman inglês. Nada mau.

7 de mai. de 2011

Estou admitindo: geral já me comeu



Dizem que sou piranha. Sou mesmo, a maior vagabunda que você já conheceu. Ou seja, você deve saber bem que essa história de que eu sou a boazinha e praticamente a irmã de todo mundo, essa história que os rapazotes insistem em repetir por aí, é pura balela. A verdade é o seguinte: geralzão quer me comer. E eu sei bem disso. Mas eu finjo que não sei, porque meu nível está muito acima do seu. Eu não sou só uma piranha. Sou uma piranha sonsa. E é isso que me diferencia no mercado. Enquanto todo mundo fala mal de vocês, os homens me idolatram. Quer dizer, as mulheres podem até falar mal de mim. Mas os homens me amam. Morra de inveja, meu amor. Há há há.

Sou tão suja, mas tão suja, que me faço de coleguinha de todo mundo. Mas a verdade é que seu homem já empurrou aqui. E gostou tanto, minha gata, que eu tive que dizer: “Para de me infernizar. Sossega com a porra da tua mulher, que ela não é a das piores”. Com algumas das fêmeas de meus machos já encrenquei, confesso. Mas isso não me impediu de dar muito, mas muito gostoso, para ele (isso mesmo, seu namorado. Ou ex. Ou peguete. Sei lá que porra ele é ou foi seu. Como eu já disse, só me faço de amiga dos mocinhos porque sou muito sonsa. Só por isso. O status civil deles não me interessa).

Sou daquelas que abraçam e faz beicinho pelas suas costas. Sou daquelas que deixam a moça em casa e vai dormir na casa do moço, cheia de más intenções. E se a moça vai dormir em casa também, dou para ele no banheiro. E se você acredita que seu homem é capaz de ser simplesmente amigo de uma gostosona como eu, sinto muito informar, mas você é uma OTÁRIA. Ah-ah, otária.

Mas já digo logo: encrencar comigo não adianta. Nem é justo comigo. Muito franca. Nunca fui amiga de mulher alguma. Nunca fiz pacto de amizade nem nada do tipo com NINGUÉM do mesmo sexo que eu. Peça satisfações para seu macho, que ficou me comendo enquanto fazia juras de amor eterno para você. Ahahahahahaah. Ah, mas você é muito otária mesmo.

Enfim, já aviso que me chamar de piranha não vai fazer de mim menos piranha. Muito menos vai fazer de você menos corna. Como eu desejo seu bem (e MUITO), espero, sinceramente, que você pare de me caluniar por aí. Não que eu me importe (se você me conhece pelo menos um pouquinho, deve saber que eu não ligo para isso. Muito pelo contrário, me escangalho de rir com a situação). Simplesmente acho que desejar e pensar o mal faz muito mal para o seu coração, e não te quero ver sofrendo assim. Logo... tira esse ódio do seu corpo! Porque, muito franca, vou continuar sorrindo do mesmo jeito.

Eu, por mim, continuarei fazendo estrago com quem quiser e bem entender. E vou continuar metendo essa marra de puritana, porque sou bem dessas. Ah- há, não tenho a mínima vergonha de assumir que sou piranha. Só me faço de santa porque acho muito engraçado ver a sua cara de otária. Repetindo: ah-há, não, não sou amiga de todo mundo. A verdade é que todo mundo já me comeu. Não tenho o mínimo problema em admitir isso. Porque homem gosta mesmo é de uma vagabunda como eu. Que finge que é amiguinha, mas faz estrago na cama. E se ele não está comigo agora, sua trouxa, é porque EU NÃO QUERO. Ah-há de novo. Engole essa aí. Ps: mais uma vez, paz no seu coração.

Eu não tenho culpa se você quer dar para quem só vai te comer de pura sacanagem. Ou não. Enfim... não vou julgar. Porque, como você bem sabe, sacanagem é comigo mesmo. Não sou dessas ciumentas.

2 de mai. de 2011

Simplesmente Shelly


Shelly Dúbia Floconetti. Tinha a mania irritante de fazer a mesma pergunta para todos os professores, coordenadores e afins que encontrasse nos corredores da faculdade: “Mas, afinal, o que é jornalismo?”. Nem Carlos Heitor Cony escapou de tal indagação. No quarto período, ele parecia ainda não ter recebido resposta que satisfizesse sua aguçada curiosidade.

Quando ficava bêbado, inventava de falar um francês ininteligível. E usava artimanhas pouco sedutoras – porém muito sexys – para envolver os meros mortais que seu nível etílico julgasse interessantes. Homens, mulheres, não importava o sexo. Diz-se ter deixado os prazeres terrenos em total estado de pureza virginal. Não sabia o que queria. Eu sempre dizia que a Shelly era uma planta. Acho que ele só queria ser amado.

Dava umas gargalhadas muito altas, dignas do sorriso lindo que tinha. Seus cabelos Á La Vanessa da Mata e seu corpo coberto de pele flácida – natural de quem havia perdido quase 100 quilos após uma cirurgia de redução de estômago - emprestavam a essa ilustre figura uma aparência tão peculiar quanto sua essência. Chamava atenção, digno da diva negra que era. Tinha uma sonora gagueira, que dava um ar sensual ao perfeito personagem que ele criava e recriava de si mesmo, todos os dias.

Tinha inclinação para arte. Fazia críticas teatrais, e hoje lamento ter recusado boa parte dos convites que recebi dele para assistir peças que julgo serem de bom gosto. Eu sempre pensava que teria muitas outras oportunidades para recuperar o dia perdido. Não difícil incorporava musas da música, nos fazendo chorar de rir com suas apresentações performáticas e improvisadas para seleto grupo de amigos. É preciso dizer que Shelly foi um talento pouco aproveitado, a humanidade não sabe a célebre veia artística que perdeu.

Perdemos daqui, ganharam de lá. Agora Shelly dá suas cabeladas no outro lado. Partiu dessa para a melhor. Lembro que no dia do enterro, Caipirinha da Silva disse chorando, enquanto olhava para o túmulo, algo que não saiu da minha cabeça. “Isso não tem nada a ver com ele”. Mas todas as histórias, independente de seus protagonistas, têm sempre o mesmo final. Todo mundo vai morrer um dia. A verdade – pelo menos a minha verdade – é que tudo na vida tem seu tempo. Há um tempo certo para cada um. Seja para nascer, para acordar, para viver.

Para a Shelly, esse negócio de partir foi uma boa. Aqui embaixo é careta demais, mesquinho demais, para um espírito tão complexo e ao mesmo tempo tão simples como o dele. É por isso que mesmo quando bate uma saudade, eu nunca, nunca lembro com tristeza. Apenas imagino a Shelly com seu bloquinho de anotações na mão, passeando pelo Além, perguntando para todo mundo – sem dar alívio nem mesmo para as pobres almas penadas, perdidas por aí: “Mas, afinal, o que é a morte?”.